Juiz solicita mais tempo para decidir sobre a prisão do ex-presidente Lula
A decisão mais aguardada pelo país
atualmente está nas mãos de uma mulher, e não é a presidente Dilma
Rousseff. À juíza Maria Veiga Oliveira, da quarta vara criminal de São
Paulo, cabe resolver se o antecessor da petista, Luiz Inácio Lula da
Silva, será encarcerado ou não. É esperada uma resposta na próxima
semana — a data ainda é um mistério. O Ministério Público de São Paulo
pediu a prisão preventiva do ex-presidente ao apresentar a denúncia por
fraudes na Bancoop, cooperativa falida de bancários de São Paulo. Para
os promotores do caso, Lula deve ser tirado das ruas por prejuízo à
ordem pública e por debochar do MP e do Judiciário.
Os promotores Cássio Conserino, José
Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo entregaram na quarta-feira
denúncia contra Lula por lavagem de dinheiro e por falsidade ideológica,
o que pode resultar em penas combinadas de quatro a 13 anos de cadeia. A
mulher de Lula, Marisa Letícia, e um dos filhos do casal, Fábio Luís,
também foram denunciados por lavagem de dinheiro. Outras 13 pessoas são
arroladas na denúncia, incluindo o ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto, preso em Curitiba no âmbito das investigações da Operação
Lava-Jato.
Ontem, ela determinou a manutenção do
segredo de Justiça do processo. Ressaltou, em despacho, que “se trata de
processo de elevada repercussão social, em que há acusações contra
ex-presidente da República e requerimento de medidas cautelares sérias”,
referência ao pedido de prisão de Lula. A juíza escreveu também que
será “necessária a detida apreciação do todo o material apresentado, o
que demandará algum tempo”.
O pedido de prisão de Lula causou
comoção internacional. Uma declaração em sua defesa foi assinada pelo
ex-secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) Juan
Manuel Insulza e por 14 ex-chefes de Estado ou de governo, incluindo os
ex-presidentes da Argentina Cristina Kirchner e Eduardo Duhalde; o
chileno Ricardo Lagos; o uruguaio José Mujica; o paraguaio Fernando
Lugo; e o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzales. No texto, eles
afirmam que “Lula não se considera nem está acima da lei. Mas tampouco
pode ser objeto de injustificados ataques à sua integridade pessoal”.
Causou mal-estar ontem entre
integrantes do Ministério Público em vários locais do país o pedido de
prisão, que consideram infundados. Blat comentou que os críticos “são
juristas que não conhecem os autos”. Blat também reagiu com irritação ao
ser questionado sobre a citação errada do filósofo Friedrich Hegel —
eles queriam, na verdade, mencionar Friedrich Engels, autor do Manifesto
Comunista. “Vão caçar o que fazer. Vão catar coquinho”, afirmou. “É
claro que nós sabemos a diferença entre Engels e Hegel. Numa peça de 200
laudas, falando de crimes essenciais, vão preferir ficar discutindo
filosofia?”, disparou.
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