Crianças na UTI do Arlinda Marques recebem tratamento odontológico
O Hospital Infantil Arlinda Marques, em João Pessoa, que faz parte da rede hospitalar do Estado, saiu na frente ao ser a primeira unidade de saúde da Paraíba a incluir dentistas na equipe de profissionais que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Desde março deste ano, oito dentistas se revezam no atendimento às crianças que precisam se submeter aos procedimentos cirúrgicos. O objetivo da medida, prevista em resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é evitar infecções e outras complicações nos pacientes, em decorrência de doenças da boca.
A função do dentista que atua na UTI é cuidar da saúde bucal do paciente antes e durante a sua internação. “As lesões da boca estão relacionadas diretamente à pneumonia nosocomial (adquirida no ambiente hospitalar) e o maior risco de contaminação ocorre na hora em que o paciente é intubado. Se ele tiver alguma doença periodontal, no momento da intubação todas as bactérias presentes na boca serão levadas ao pulmão e essa pessoa corre grande risco de ir a óbito”, explicou o coordenador do serviço, Francisco Adelardo Lopes.
Problemas diversos - Ele lembrou que a doença periodontal pode causar endocardite, tumor cerebral, septicemia e doenças do tubo ovariano, entre outros problemas de saúde. Cabe à equipe de dentistas da UTI avaliar a boca dos pacientes que serão submetidos à cirurgia para verificar a existência de focos de contaminação. Os cuidados continuam após a realização do procedimento, com a limpeza diária da boca, para evitar a proliferação de bactérias e feridas.
"A saúde começa pela boca, mas a doença também pode começar por ela. Por isso, é tão importante a presença de dentistas nas unidades de terapia intensiva para favorecer a higienização não só da boca, mas dos aparelhos utilizados pelo paciente durante a sua permanência no hospital. Essa medida evita a contaminação cruzada e diminui o tempo de internação, reduzindo os custos para a rede hospitalar”, argumentou.
Risco de contaminação - Francisco citou o caso de um menino de três anos de idade que precisou extrair 11 dentes antes de ser submetido a uma cirurgia cardíaca. “Recebemos a solicitação da cardiologista para extrair os dentes de um menino cardiopata porque ele tinha muitos dentes estragados na boca. Fizemos a avaliação e, sob anestesia geral, retiramos 11 dentes com focos de contaminação para que esse paciente pudesse se submeter à cirurgia tranquilo”, contou.
Quando não existia o serviço, as crianças que precisavam fazer alguma extração dentária antes da cirurgia tinham que ser encaminhadas a algum centro de especialidade odontológica, adiando o procedimento. A presença dos dentistas na UTI proporciona segurança para médicos e pais.
“Antes da cirurgia da minha filha, os dentistas fizeram uma limpeza na boca dela e depois que ela saiu da UTI, eles passam aqui todos os dias. É muito bom, porque eles mostram vídeos, livros, e ensinam pra gente como cuidar dos dentes”, disse a dona-de-casa Maria Aparecida Nascimento, 34 anos, mãe de uma menina de 6 anos que retirou um tumor da cabeça.
Em toda a rede - Segundo Francisco Adelardo, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) está tomando as providências para implantar o serviço em todos os hospitais da rede hospitalar do Estado que possuem UTI.
“Alguns hospitais já mostraram interesse em implantar o serviço e o pessoal da atenção básica já começou a fazer as visitas técnicas. Estamos saindo na frente, porque a maioria dos hospitais privados não tem sequer conhecimento dessa portaria”, disse. A resolução de direção colegiada nº 7, da Anvisa, que dispõe sobre os requisitos mínimos para o funcionamento de UTIs é de 24 de fevereiro de 2010.
Ambulatório e enfermarias - Além de inserir dentistas na equipe da UTI (são dez leitos), o Complexo de Pediatria Arlinda Marques implantou um serviço odontológico no ambulatório (com oito dentistas) para atender as crianças internadas no hospital, além dos casos de urgência e emergência, como fraturas no dente, em decorrência de quedas, por exemplo.
Outra equipe atua nas enfermarias, fazendo uma avaliação diária da boca dos pacientes e orientando os pais. Quando há a necessidade da realização de procedimentos que não são de urgência, os profissionais encaminham as crianças para os serviços básicos de saúde.
“Esse trabalho de orientação vai muito além de uma simples higienização bucal na criança: alerta os responsáveis por ela sobre o surgimento de pequenas lesões que, se não tratadas corretamente, poderão progredir para um câncer bucal. No final das contas, o serviço atinge também os acompanhantes desses pacientes, que chegam ao hospital com poucas informações sobre saúde bucal e saem de lá como multiplicadores”, disse o coordenador de Odontologia do ambulatório e da enfermaria, Lourival Junior.
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