Lula critica cortes de Temer: 'deviam viver um dia de pobre'
O discurso na noite de hoje (6) no estádio Mineirinho,
em Belo Horizonte, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva criticou
cortes no Bolsa Família e desafiou os opositores do programa a viver um
"dia de pobre". A fala ocorreu durante o 3° Acampamento Nacional do
Levante Popular da Juventude, organização que é crítica ao impeachment
que afastou Dilma Rousseff da presidência da República e classificam o
processo de golpe. Seus integrantes defendem a saída de Michel Temer.
Eles querem ainda a convocação de eleições diretas e de uma assembléia
constituinte.
Segundo Lula, o governo de Michel Temer desligou do
Bolsa Família mais de 900 mil beneficiados. "Eles acham que é esmola.
Disseram que eu estava criando vagabundos no país. (...) Eles deviam
viver um dia de pobre, para ver como o nosso povo é extraordinário. Não
há povo mais tolerante que o brasileiro. Porque aguentar o que
aguentamos todo santo dia, era para sermos muito mais rebeldes", disse.
O
ex-presidente reiterou que a distribuição de renda é fundamental para o
crescimento do país. "Eles pensavam que pobre era o problema desse país
e nós provamos que pobre é a solução. Dê R$ 1 bilhão a um rico e ele
vai transformar o dinheiro em uma conta bancária. Dê R$ 50 a um pobre e
ele vai comprar o que comer, o comércio vai produzir, a indústria vai se
desenvolver e os empregos vão surgir".
Para Lula, a participação política é outro fator
fundamental para superar a atual crise brasileira. "Toda vez que se nega
a política nasce um Hitler, nasce um Bolsonaro. Quando as pessoas
começam a rejeitar a política não é a esquerda que cresce, é a direita. E
não é a direita civilizada. É a direita raivosa", disse.
O ex-presidente defendeu mais tolerância na política.
"O Rui Falcão já foi agredido em aeroporto. O João Pedro Stédile já foi
agredido em aeroporto. Lá em São Paulo, muita gente foi agredida. Nós
não podemos ser tão rasteiras como eles porque nós temos uma
divergência. Nós queremos mais gente participando da política e não
queremos as pessoas se afastando da política por esses episódios. Vamos
mostrar que, na nossa democracia, nós sabemos conviver com a
diversidade".
Evento
Também estiveram presentes no evento o senador
Lindbergh Farias (PT), os deputados federais Patrus Ananias (PT), Jô
Moraes (PCdoB) e Maria do Rosário (PT) e o governador mineiro Fernando
Pimentel (PT). O presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu a
desmilitarização da polícia e lembrou o caso da jovem Deborah Fabri, que
perdeu a visão em decorrência de ação policial em manifestação em São
Paulo.
O Levante Popular da Juventude é uma organização de
esquerda que surgiu em 2006 no Rio Grande do Sul e tem o objetivo de
mobilizar jovens para transformar a sociedade. A coordenação estima que
há cerca de 20 mil integrantes no Brasil. Os acampamentos nacionais
ocorrem a cada dois anos e é a instância máxima de deliberação do
Levante Popular da Juventude. Tem ainda uma programação voltada para a
formação política e cultural. Há mesas com o jornalista esportivo Juca
Kfouri, a atriz Letícia Sabatella e o australiano Julian Assange,
principal porta-voz da plataforma WikiLeaks que participará através de
videoconferência.
Esta edição do encontro reúne cerca de 7 mil jovens de
todos os estados do país. "Aqui reunimos gente da cidade e do campo, da
periferia, da universidade e das escolas, negros e negras e LGBTs
[Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros].
Temos um lema que é nossa rebeldia é o povo no poder", diz a gaúcha
Nataly Santiago, integrante da coordenação nacional.
Financiamento
Paralelamente ao acampamento, ocorre o Festival
Cultural da Juventude Brasileira, evento que teve financiamento do
governo de Minas Gerais e gerou críticas dos partidos opositores de
Fernando Pimentel. "Nós participamos de um edital público e nosso
projeto, que atendia a todos os critérios, foi contemplado em um
processo transparente. Aqui a juventude encontra um espaço aberto e
democrático para dar vazão às suas produções artísticas", explica o
paulista Thiago Pará, membro da coordenação nacional do Levante Popular
da Juventude.
Pimentel também respondeu às críticas em seu breve
discurso. "Vou dizer para a imprensa repetir amanhã. Nós vamos continuar
apoiando os movimentos de juventude. Aqui, não recebemos os jovens com
bala de borracha", disse o governador mineiro, fazendo referência aos
recentes episódios ocorridos nas manifestações de São Paulo. Segundo a
coordenação do Levante Popular da Juventude, o evento teve também
recursos arrecadados em campanhas de financiamento coletivo feitas pela
internet e com rifas organizadas pelos militantes.
FONTE: Terra
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