Moradores do Rio recriam desafio do balde em campanha para que a água chegue a suas casas
Anônimos e famosos embarcaram, nos últimos dias, no desafio do balde do gelo, na internet, com o objetivo de chamar a atenção para uma doença rara, a esclerose lateral amiotrófica. Mas, em alguns bairros do Rio e da Região Metropolitana, tem gente que não pôde entrar na brincadeira. São lugares onde o desafio é encher o balde. Em Bento Ribeiro, na Zona Norte, por exemplo, há mais de um ano a água só pinga na torneira das 2h às 6h, para os moradores da Rua Queluz.
— Troco o dia pela madrugada para lavar louça e roupa. É uma tristeza sem fim — diz Lia Pereira, de 85 anos, moradora de um dos 34 lotes prejudicados pelo problema.
A vizinha da frente, Kátia Lopes, de 62, conta que desde o verão passado, quando a situação se agravou, convive com uma doença de pele.
— É uma dermatite nervosa que desenvolvi por alergia ao suor. Sem abastecimento de água, fica difícil curar — conta, apontando para as manchas no corpo.
Na Rua Sotelo, em Engenheiro Pedreira, Japeri, o quadro é ainda pior. Os moradores, que não têm nem torneira em casa, estão a apenas 1km de distância do Rio Guandu, que abastece 80% da população da Grande Rio.
— O que eu não entendo é como a água do rio pode chegar até a Zona Sul e não abastecer as casas aqui do lado — desabafa Maria Serra, de 47 anos, que nasceu e foi criada no local: — O sonho da minha mãe era ver a água chegar aqui. Ela morreu aos 53 anos, carregando balde e tomando banho de caneca.
Banho até com água do mar
Em São Gonçalo, também há problemas. Na Praia das Pedrinhas, em Boa Vista, moradores contam que a água só desce uma vez por semana no cano, normalmente aos domingos. Nos outros dias da semana, eles recorrem até à água da praia para o banho.
— Minha filha está com 2 meses e estou gastando um dinheirão comprando galões de água para dar banho nela. Não é fácil viver assim. Esse é o grande desafio — diz Jéssica Oliveira, de 20 anos.
Já na Rua Cristóvão Sardinha, no bairro do Guaxindiba, a reclamação é que nenhuma casa tem ligação da Cedae. É preciso usar água de poço ou comprar galões.
Pegando carona no sucesso do desafio do balde de gelo, os moradores de Bento Ribeiro e Japeri decidiram criar a própria campanha: o desafio dos sem água. Num vídeo, com baldes vazios voltados para as suas cabeças, eles desafiaram o presidente da Cedae, Wagner Victer, a levar um abastecimento de água satisfatório até as suas casas.
Se quiser propor o desafio para a rua onde mora, envie o seu vídeo pelo WhatsApp do EXTRA (21 998099952 e 21 996441263), ou através das nossas redes sociais: facebook.com/jornalextra, twitter.com/jornalextra e instagram.com/jornalextra.
‘A conta nunca atrasa, mas a água, sempre’
Depoimento do bancário Paulo César Pereira, de 66 anos, morador da Rua Queluz, em Bento Ribeiro
A conta de água nunca atrasa, sempre vem em dia. E olha que não é baratinha. Já a água atrasa sempre. Todas as vezes que eu ligo para a Cedae, eles têm uma desculpa. Nós tomamos todas as providências que pediram. Instalamos hidrômetro, fizemos as avaliações necessárias, mas simplesmente ninguém consegue dar jeito na situação. Moro com minha irmã, que é idosa e precisa trocar o dia pela madrugada para lavar louça. Todos na rua sofrem. A gente tenta se ajudar, mas é um consolo mútuo de sofrimento.
Desobstrução no Rio e obra em São Gonçalo
A Cedae informou que já estava programada para segunda-feira a desobstrução da rede que abastece a Rua Queluz, o que resolverá o problema. No caso de Boa Vista, em São Gonçalo, o quadro vai só melhorar após a conclusão de obras em andamento no Morro do Abacatão, prevista para o próximo mês. No Guaxindiba, a empresa depende da conclusão das obras de implantação do sistema de abastecimento de água de Monjolos, prevista para 2015. Em Japeri, a Cedae diz que avaliará o problema com mais informações e acrescenta que a região tem alto índice de ligações clandestinas.
FONTE: Extra
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