Ressocialização garante educação para quase dois mil reeducando em presídios da Paraíba
Transformação social por
meio da educação. Aprender a ler, escrever e se profissionalizar tem sido uma alternativa
encontrada para 1.708 reeducandos que pretendem mudar de vida ao ganhar a
liberdade. A ação, proporcionada pela Secretaria do Estado da Educação, por
meio da Gerência Executiva da Educação de Jovens e Adultos, e da Secretaria de
Administração Penitenciária, está presente em 36 unidades prisionais de 24
municípios paraibanos.
Entre os programas
educacionais oferecidos está o Brasil Alfabetizado, do Governo Federal, que
proporciona ao apenado a oportunidade de aprender a ler e escrever. Além deste,
existe o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional, com a
Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos (Proeja), que oferece aos
detentos o acesso ao ensino médio e, posteriormente, a oportunidade de ingresso
no ensino superior. Há ainda o Projovem Prisional, que disponibiliza ensino
fundamental e qualificação profissional aos apenados de 18 a 29 anos, que não
concluíram o ensino fundamental. Atualmente, esta modalidade está presente no
presídios Júlia Maranhão, Geraldo Beltrão e Sílvio Porto, em João Pessoa.
Os
participantes recebem em conta uma bolsa auxílio no valor de R$ 100,00,
mediante comprovação de frequência e disciplina nas aulas. Os cursos são
voltados para a área de construção civil, como gesseiros, eletricista e
auxiliar de pedreiro, que oportunizam alguns deles a exerceram as primeiras
práticas dentro das próprias unidades prisionais.
O
apenado Pablo Silva, de 18 anos, entrou no sistema prisional há apenas oito
meses e decidiu retomar os estudos que havia deixado de lado junto com a
profissão de garçom. “Eu quis ocupar meu tempo aqui dentro fazendo coisas
construtivas que fossem me ajudar a ser um cidadão melhor. Não quero que a
sociedade e nem minha família me vejam com discriminação, por isso estou
estudando para fazer um curso técnico em edificações e depois uma graduação em
construção civil, pois aqui dentro já faço pequenos reparos nessa área. Eles
acreditam na gente e nos fazem também acreditar nisso”. Joab declarou ainda que
está em ritmo de estudo acelerado para fazer o Enem. “Só quando somos privados
da liberdade é que enxergamos o que vale a pena. Estou tendo essa oportunidade
única, me recuperando e jamais quero retornar à criminalidade, pois ela não é o
caminho mais fácil”, completou.
A
gerente executiva de Educação de Jovens e Adultos (EJA), Maria Oliveira de
Moraes, lembrou do início da implantação da educação nos presídios. “Fizemos um
diagnóstico nas unidades do Estado e sensibilizamos os gestores. Não houve
resistência e hoje ampliamos os números de alunos e a evasão é mínima. É um
benefício mútuo, pois até noções de limpeza e higiene - que aprendem em sala de
aula - eles levam para dentro das celas compartilhando com outros detentos. Das
86 prisões do Estado, a meta é alcançar 50 até o final do ano”, frisou.
Em
João Pessoa, entre os presídios beneficiados está o Desembargador Sílvio Porto,
no bairro de Mangabeira. O diretor da unidade, Major Lima, elogiou o trabalho
desenvolvido e os benefícios trazidos. “Temos a segunda maior população
carcerária do Estado e, ainda assim, muitos optam pela oportunidade de
ressocialização, aprender a ler e ter uma profissão. Por isso, já temos projeto
para aumentar o número de salas de aula, disponibilizar mais cursos técnicos e
implantar o ensino superior virtual em parceria com universidades
públicas”.
A
professora de Matemática, Ellen Costa, está no projeto há três anos e revela
que estudar não é sinônimo de obrigação para os reeducandos. “Eles encaram com
bastante entusiasmo, participam das aulas, tiram dúvidas, levam questões para
resolver dentro das celas e acabam tendo a parceria dos companheiros para
resolvê-las. Eles querem mudar de vida e muitos já conseguiram, pois conheço
alguns que ao ganharam a liberdade de volta conseguiram permanecer nos estudos
e até ingressar na universidade, voltando à sociedade de maneira digna”,
relatou orgulhosa.
O
ex-agente penitenciário, João Wellington Ferreira, 45 anos, detido há cinco
anos, voltou aos estudos e tornou-se
monitor nas aulas de matemática. “O tempo passa e mesmo tendo os estudos
completos é sempre bom se reciclar. Já estou inscrito no Enem, Prouni nos
cursos de Administração e Processos Gerenciais, além do Sisu na lista de espera
para Matemática e Turismo. Tenho esperança de ganhar a remissão de pena nos
próximos meses e, de volta à família, vou retomar minha vida. Estudar é igual a
andar de bicicleta: se parar, a gente cai. Sou consciente e devo muito ao apoio
que tive da equipe de educação. Eles têm sempre uma palavra amiga e de
otimismo. Somos passíveis de erros, mas há correção ”, disse.
De
acordo com a coordenadora de Educação do Sistema Prisional, professora Eliane
Aquino, o ensino dentro dos presídios teve que se adaptar à rotina do sistema
quanto ao período de visitas, escolta para saúde e até mesmo justiça. “A missão
é árdua, mas aprendemos com cada profissional, agente penitenciário e inclusive
com os apenados que eram desmotivados. Queremos ressocializá-los,
transformá-los em seres humanos do bem e diminuir a reincidência de crimes. É
uma experiência ímpar, em particular na minha vida profissional, mas
gratificante e encorajadora, pois de jovens excluídos se tornam reintegrantes
da vida em sociedade”.
A educação em presídios
possui parcerias com a Secretaria da Administração Penitenciária e a Secretaria
de Saúde e realizou em 2012 um projeto interdisciplinar de conscientização dos
privados de liberdade para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
As culminâncias dos projetos são realizadas através de oficinas e mostras
culturais com a produção dos próprios reeducandos, cujos trabalhos de maior
destaque compõe um portfólio referente ao projeto. A ideia dos portfólios é
revelar o envolvimento da equipe e do corpo discente nas atividades
educacionais das unidades prisionais.
Campus – Em agosto de 2013, foi inaugurado o campus
avançado da UEPB no presídio do Serrotão, que conta com oito salas de aula e um
auditório, onde podem ser atendidas as necessidades de continuidade desses
reeducandos. A iniciativa dará oportunidade aos reeducandos a cursarem desde a
alfabetização até cursos superiores e profissionalizantes.
FONTE: Secom-PB
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