Desgaste na Câmara faz PT criticar presidente
Deputados apontam 'erros' políticos e até cogitam mudanças em pacote do governo
Preocupados com a perda de espaço na Câmara e prevendo um longo isolamento do partido na Casa, deputados do PT passaram a criticar abertamente "erros" do governo Dilma Rousseff e a articular mudanças no principal pacote enviado pelo Planalto ao Congresso: o que endureceu o acesso a benefícios trabalhistas, uma das principais apostas para o ajuste fiscal.
Petistas avaliam que a condução das negociações políticas no início do segundo mandato foi equivocada e resultou na derrota em turno único de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na eleição para a presidência da Câmara.
"Não é possível ter um governo de coalizão em que apenas um partido participa do conselho político da presidente", disse o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). "É um erro atrás de outro. Com isso, articuladores como o (vice-presidente) Michel Temer ficam à parte, desperdiçados. E nenhum partido da base se sente obrigado a ter compromissos com o governo, porque de fato está alijado do processo de decisão."
O deputado Vicente Cândido (PT-SP) afirmou que os tropeços começaram na montagem do novo ministério, feito à revelia dos partidos aliados. "Kátia Abreu foi para o Ministério (da Agricultura) sem que houvesse conversa com o PMDB; Armando Monteiro (Desenvolvimento), sem falar com o PTB. O PP foi desalojado de Cidades sem a sinalização para onde iria. Tudo isso atrapalhou", disse. Cândido observou que o novo cenário deixa claro que o governo precisa escalar um nome do PMDB para o "núcleo duro" das negociações com o Legislativo e, assim, distensionar o ambiente político.
Ajuste. Com receio de que o isolamento seja maior, a sigla quer acenar às suas bases sindicais. Nesse sentido, a "dosagem" do aperto fiscal de Dilma também entrou na mira dos petistas. A assessoria da bancada realizou na semana passada reuniões com sindicalistas e os deputados já preparam emendas para serem apresentadas às Medidas Provisórias 664 e 665, que endurecem o acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial e à pensão por morte.
As emendas vão propor, entre outros pontos, a redução do tempo de carência determinado pelas MPs para que o trabalhador receba o seguro-desemprego e o abono salarial, itens centrais para o movimento sindical. Só as "correções de distorções" - conforme o governo chama as alterações - nesses dois pontos devem render uma economia de R$ 16 bilhões aos cofres públicos.
"Vamos retomar o debate com a pauta dos movimentos sociais e a nossa caminhada histórica com os aliados, como a CUT", disse o deputado Décio Lima (PT-SC). Cândido alega que "o mais grave" é falta de conversa com os sindicatos. "O governo precisa controlar as contas mas não pode prejudicar os trabalhadores", argumentou.
Zarattini apoia o combate a fraudes, mas questiona outros pontos, como a não correção da tabela do Imposto de Renda, "Tem essa questão da retirada dos direitos trabalhistas. Tudo bem que pode haver fraude, mas isso tem de ser visto do ponto de vista da investigação policial, e não de forma geral. E por que vetou a correção da tabela do Imposto de Renda em 6,5%, punindo os que recebem salários menores? Era só criar faixas acima."
"O que for (corrigir) distorções vamos apoiar. O que puder mexer em direitos vamos questionar", disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
FONTE: RICARDO DELLA COLETTA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
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