Barbosa: declaração de Lula é fato grave e merece repúdio
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro
Joaquim Barbosa, emitiu uma nota na segunda-feira (28) na qual lamenta
as declarações do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva,
que afirmou em entrevista à TV portuguesa RTP que o julgamento do
mensalão foi “80% político”. Segundo Barbosa, a fala do petista é “um
fato grave que merece o mais veemente repúdio”.
Para Barbosa, a opinião de Lula demonstra “dificuldade
em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário
independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome”. Leia a
nota na íntegra:
Lamento profundamente que um ex-Presidente da
República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira para
questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta
Corte de Justiça do País. A desqualificação do Supremo Tribunal Federal,
pilar essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o
mais veemente repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança
para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e
acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros clamam por justiça.
A Ação Penal 470 foi conduzida de forma
absolutamente transparente. Pela primeira vez na história do Tribunal,
todas as partes de um processo criminal puderam ter acesso
simultaneamente aos autos, a partir de qualquer ponto do território nacional uma vez que toda a documentação fora digitalizada e estava disponível em rede. As cerca de 60 sessões do julgamento foram públicas, com transmissão ao vivo pela TV Justiça, além de terem recebido cobertura jornalística de mais de uma centena de profissionais de veículos nacionais e estrangeiros. Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa.
simultaneamente aos autos, a partir de qualquer ponto do território nacional uma vez que toda a documentação fora digitalizada e estava disponível em rede. As cerca de 60 sessões do julgamento foram públicas, com transmissão ao vivo pela TV Justiça, além de terem recebido cobertura jornalística de mais de uma centena de profissionais de veículos nacionais e estrangeiros. Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa.
Acolhida a denúncia em agosto de 2007, o
Ministério Público e os réus tiveram oportunidade de indicar
testemunhas. Foram indicadas, no total, cerca de 600. Acusação e defesa
dispuseram de mais de quatro anos para trazer ao conhecimento do Supremo
Tribunal Federal as provas que eram do seu respectivo interesse.
Além da prova testemunhal, foram feitas inúmeras
perícias, muitas delas realizadas por órgãos e entidades situadas na
esfera de mando e influência do Presidente da República, tais como:
- Banco Central do Brasil;
- Banco do Brasil;
- Polícia Federal;
- COAF.
- Banco do Brasil;
- Polícia Federal;
- COAF.
Também contribuíram para o resultado do julgamento
provas resultantes de trabalhos técnicos elaborados por órgãos da
Câmara dos Deputados, do Tribunal de Contas da União e por Comissão
Parlamentar de Inquérito Mista do Congresso Nacional.
Portanto, o juízo de valor emitido pelo ex-Chefe
de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e
simplesmente sua dificuldade em compreender o extraordinário papel
reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente
digna desse nome.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF
aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto
esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson
(PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares
da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com
os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o
deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e
retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito
de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da
República apontou como operadores do núcleo central do esquema José
Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o
ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Silvio
Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu,
Genoino e Delúbio responderam ainda por corrupção ativa.
O relator apontou também que o núcleo
publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário
Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério
Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone
Vasconcelos e Geiza Dias. Eles responderam por pelo menos três crimes:
formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. A então
presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto
Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por
formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro.
O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar
Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de
divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz
Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco
do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo
com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no
inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de
serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus.
José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de
figurar na denúncia.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP)
respondeu processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. A denúncia incluía ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e
PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson. Em julho de
2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do
processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram
de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do
ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas,
ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de
2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo
contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de
utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante
três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por
isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por
cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de
Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
No dia 17 de dezembro de 2012, após mais de quatro
meses de trabalho, os ministros do STF encerraram o julgamento do
mensalão. Dos 37 réus, 25 foram condenados, entre eles Marcos Valério
(40 anos e 2 meses), José Dirceu (10 anos e 10 meses), José Genoino (6
anos e 11 meses) e Delúbio Soares (8 anos e 11 meses).
Após a Suprema Corte publicar o acórdão do processo,
em 2013, os advogados entraram com os recursos. Os primeiros a serem
analisados foram os embargos de declaração, que têm como função
questionar contradições e obscuridades no acórdão, sem entrar no mérito
das condenações. Em seguida, o STF decidiu, por seis votos a cinco, que
as defesas também poderiam apresentar os embargos infringentes, que
possibilitariam um novo julgamento para réus que foram condenados por um
placar dividido – esses recursos devem ser julgados em 2014.
Em 15 de novembro de 2013, o ministro Joaquim Barbosa
decretou as primeiras 12 prisões de condenados, após decisão dos
ministros de executar apenas as sentenças dos crimes que não foram
objeto de embargos infringentes. Os réus nessa situação eram: José
Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, Ramon Hollerbach,
Cristiano Paz, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Henrique Pizzolato,
Simone Vasconcelos, Romeu Queiroz e Jacinto Lamas. Todos eles se
apresentaram à Polícia Federal, menos Pizzolato, que fugiu para a
Itália.
FONTE: Terra
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