Trote de UFRGS obriga calouros a beijar cadáver de porco e tomar banho com fluídos intestinais
Depois de imagens de um trote da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) gerarem reboliço por serem consideradas racistas, mais um ritual de recepção de calouros, aplicado na sexta-feira passada, gerou polêmica. Desta vez, alunos do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foram obrigados a segurar uma cabeça de porco e posar com ela para fotos. Eles também receberam banhos de um líquido que continha vísceras de peixes e ovos podres.
A brincadeira de gosto duvidoso foi registrada por alunos do curso de Ciências Biológicas. Fabrício Dutra estava saindo do restaurante universitário do Campus do Vale, em Porto Alegre, quando notou a movimentação. Ele contou que os veteranos do curso de Engenharia Civil obrigaram os calouros - chamados de "bichos" - a espalharem banha de porco em uma lona esticada no chão. Os novos alunos sentaram em círculo, em cima do plastico sujo com a gordura. Eles precisaram segurar o animal e fazer um juramento ao curso. Os calouros eram ainda obrigados a beijar a cabeça e receberam banhos de uma mistura de vísceras de peixe e ovos podres.
- O cheiro era horrível. Alguns veteranos estavam até de luva. E outros usavam saco plástico para se proteger desse líquido vermelho - contou Fabrício. - Imagina a gente indo almoçar no restaurante com esse cheiro?
O estudante lembrou ainda que um dos veteranos chegou a discutir com ele, por causa da gravação, e xingou as colegas de Fabrício.
- Ele perguntou porque eu estava filmando. Respondi que sou contra. Isso não vai mais acontecer. Estamos indignados.
Quando a discussão esquentou, Fabrício foi aconselhado por outras pessoas a deixar o local onde ocorria o trote. Segundo o estudante, o veterano afirmou que a direção do curso estava ciente do ritual.
- Com certeza, eles não sabiam de nada disso. Se soubessem, não teriam permitido - garantiu. - Isso já aconteceu na biologia, há alguns anos. Não com os animais, mas com as vísceras. E eles proibiram. Hoje, nosso trote é futebol de sabão.
Gabriela Baum, também aluna de Ciências Biológicas, ficou sabendo do caso por meio de colegas de curso. Ela ressaltou o perigo desse tipo brincadeira.
- Muitas vezes, alunos morrem em trotes. Neste caso, pode até parecer que isso não vá acontecer. Mas essas substâncias orgânicas podem conter vírus e bactérias que podem trazer doenças para os alunos - observou ela. - Os alunos, principalmente os de biologia, ficaram chocados e estão se comunicando com a imprensa para pressionar o reitor a se posicionar.
Fabrício Dutra publicou o vídeo no Facebook e recebeu uma enxurrada de comentários. "Essa manifestação irresponsável foi feita em local público e dentro da Universidade que eu e outros frequentam! No meio do caminho de muitos e em um local de USO COMUM! Além da falta de respeito, a de higiene também é um ponto importantíssimo a se levar em consideração!! Mas todos os argumentos que tenho em mente e a indignação serão manifestadas ao reitor... Esse sim terá que se posicionar diante de mim e da comunidade acadêmica (quiçá do público externo) em relação a esse 'trote', se é que pode ser chamado assim!", escreveu a estudante Louise Tocchetto.
UFRGS ainda não se pronunciou oficialmente
De acordo com a assessoria da UFRGS, os alunos costumam fazer banhos de tinta nos trotes da universidade. A assessoria informou ainda que cada campus tem autonomia para lidar com problemas relacionados ao trote universitário. O diretor da Escola de Engenharia está em reunião, para decidir qual atitude será tomada em relação ao caso.
Na página da Secretaria de Assistência Estudantil da universidade na internet, estão apresentadas orientações sobre a aplicação dos trotes na instituição. Entre as recomendações apresentadas está: " sejam evitadas nas atividades de trote práticas que envolvam violência sob as formas física, sexual e psicológica, bem como importem desrespeito à vida e à dignidade humana". A legislação do Conselho Universitário provê também a punição dos envolvidos em trotes, que estejam incluídos nesses casos.
A cordenadora-geral do Diretório Acadêmico, Nathália Bittencurt, disse que soube do trote, mas ainda não conseguiu apurar a história com os alunos da Engenharia Civil. Ela disse que o caso está sendo investigado e, se constatado excesso dos estudantes, o diretório tomará uma posição para cobrar ações da universidade.
Na semana passada, um trote na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) causou polêmica nas redes sociais. Em uma das fotos compartilhadas no Facebook, uma mulher aparece pintada de negro, algemada, com uma placa dizendo "caloura Chica da Silva". Em outra imagem, estudantes fazem saudações nazistas e um deles usa um bigode semelhante ao do ditador Adolf Hitler.
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