Qualidade de vida é sonho para adolescente, que descobriu a Aids após morte do namorado
Catarina (nome fictício) sabia que companheiro era contaminado, mas sonhava na cura pelo amor; hoje, ela guarda a doença em segredo e diz que não se sente diferente de outras jovens de sua idade
A timidez não esconde os sonhos e nem tira dos seus lábios um sorriso contagiante, que transmite a alegria de viver de uma adolescente de 14 anos, portadora do vírus HIV/Aids. “Hoje sei o que significa ter Aids. Só quero viver, e bem. Quero ter minha vida normal, saúde, emprego e uma família feliz”, diz Catarina.
A adolescente adquiriu o vírus HIV do namorado de 17 anos, durante um romance em 2010. Agora, em 2013, ensina que viver com a doença é uma prova de superação, mas que nem por isso a Aids a torna diferente das demais garotas de sua idade. “Eu sou normal. As pessoas costumam sentir pena de mim, acham que eu vivo doente. Mas eu faço as mesmas coisas que os outros”, comentou.
O namorado dela morreu em 2012, vítima de uma complicação desencadeada pela doença. A morte do jovem despertou Catarina, que fez os testes e confirmou que era também portadora do vírus. “Eu me apaixonei perdidamente. Sabia que ele tinha a doença, mas não tinha noção da gravidade. Só me toquei quando ele morreu”, lamentou. “Acreditava que meu amor superava qualquer vírus”, comentou.
Um amigo do casal, Charles, disse que eles não seguiam o tratamento contra a doença. Eles viviam uma vida regada com bebida e prostituição. Ele avalia que a negligência do casal levou à morte o jovem.
Catarina ainda está se adaptando com os remédios. “Tenho consciência que os remédios são a minha vida. É a garantia de eu estar sempre saudável, longe das doenças oportunistas da baixa imunidade do organismo provocada pelo vírus”, disse.
A Aids para família de Catarina é quase um segredo de família, principalmente, por medo do preconceito. Ela afirmou que nunca contou para amigas da escola sobre a doença. “Falar pra quê? Pra depois ficarem falando por trás que essa menina é isso, aquilo”, justifica. Ela é a única da família soropositiva e apenas alguns familiares sabem sobre a doença.
Sobre futuros namoros, a adolescente não pensa muito no assunto, mas sonha com um grande amor que possa “compartilhar o segredo”.
A ONG da esperança
A ONG Missão Nova Esperança atende 50 crianças de zero a 15 anos, que são soropositivas ou foram expostas ao vírus – filhos de mães com o HIV. Nessa organização não governamental, os meninos e meninas são atendidos por psicólogo e nutricionista. Recebem também toda medicação e acompanhamento especifico para Aids.
Além do atendimento prestado as crianças, a ONG oferece apoio às famílias que têm algum soropositivo. Os familiares recebem cestas básicas mensalmente e participam de reuniões que fazem esclarecimentos e detalham sobre a convivência com a doença.
Catarina é um nome fictício. Na vida real, a garota é uma das assistidas pela ONG Missão Nova Esperança.
Maicon, órfão aos 4 anos
Maicon, 7 anos, perdeu os pais vítimas da Aids. O adolescente adquiriu o vírus HIV da mãe, durante a amamentação. A mãe de Maicon faleceu quando ele tinha cerca de 2 anos, e depois de um ano e quatro meses o pai também morreu. A mãe não sabia que era soropositiva.
“Não lembro da minha mãe, do rostinho dela. Só sei que não gosto de hospital e que tomo remédio todo dia”, diz o menino, que mora com uma tia no distrito de Acaú, no município de Pitimbú (Litoral Sul da Paraíba, a 25 quilômetros de João Pessoa).
Patrícia (tia de Maicon) leva o menino para ONG Missão Esperança toda semana. “Ele gosta muito da ONG. É visível a mudança dele. Maicon é uma criança antes e depois de frequentar a ONG”, atesta.
Maicon ainda não tem noção sobre a doença e brinca com outras crianças. “Eu gosto de correr e brincar”, diz.
Transmissão do HIV
A maioria das crianças adquire o HIV de suas mães durante a gestação, o parto, ou a amamentação. Essa forma de contágio é denominada de transmissão materno-infantil.
Para evitar a transmissão vertical, isto é, quando a mamãe contamina seu filho durante a gestação, parto ou amamentação, um coquetel de remédios que reduz a carga viral deve ser tomado desde o início da gravidez até o parto.
O bebê, segundo os médicos, deve continuar recebendo remédios durante as seis primeiras semanas de vida. Quase a totalidade dos casos de HIV em crianças menores de 13 anos foi transmitida de mãe para filho nessas situações.
O índice de transmissão vertical do HIV de uma mãe que se cuida desde o início da gravidez e não amamenta seu filho é de apenas 5%. Já as mulheres que não sabem que são portadoras do vírus HIV e levam a gravidez sem tomar a medicação (e ainda amamentam seus filhos) tem cerca de 40% de chances de transmitir o vírus para o seu bebê.
O maior índice de transmissão do vírus é no trabalho de parto e no parto, seguido pela infecção intraútero (principalmente nas últimas semanas da gestação) e na amamentação.
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