O MAR ESTÁ AVANÇANDO NO LITORAL DA PARAÍBA
Pelo menos 66 casas estão danificadas pelo avanço do mar.
Moradores fazem o que podem para manter casas.
Piso destruído, escadas danificadas, teto que desabou. Essas são algumas das imagens que são possíveis ver a beira-mar da Praia Baía da Traição, no Litoral Norte da Paraíba. Desde 2008 o avanço do mar atinge as construções na orla da cidade e hoje já invade até uma das ruas do local. O G1 visitou Baía da Traição, que fica a 77 km da capital, para ver de perto os estragos causados pelo mar.
Um levantamento realizado em 2009 pela prefeitura de Baía da Traição apontava que 66 casas haviam sido destruídas por conta do avanço do mar. Segundo Luiz Pedro do Nascimento, coordenador da Defesa Civil na cidade, esse número não teve mudanças nos últimos anos, no entanto as casa ficaram ainda mais danificadas.
Passeando pela beira-mar, o G1 se deparou com dezenas de casas destruídas, coqueiros caídos e muitos destroços dos imóveis e quebra-mar que não suportaram a força da água. Os banhistas dividem o espaço com os entulhos a beira-mar.
O geografo Williams Guimarães explicou que diversos fatores contribuem para a erosão marinha na área de Baía da Traição. Ente eles os de cunho natural e também de interferência humana. Segundo o geografo, a linha de arrecifes é responsável por proteger a costa. Ela age como uma espécie de quebra-mar natural e diminui o efeito das ondas.
Segundo Williams, Baía da Traição é uma área naturalmente erosiva. “A taxa de sedimentação é muito baixa. Ocorre muita retirada de areia e pouca reposição. O maior rio do Nordeste é São Francisco e a taxa de deposição de areia no mar é baixíssimo”, explicou.
Segundo Williams, Baía da Traição é uma área naturalmente erosiva. “A taxa de sedimentação é muito baixa. Ocorre muita retirada de areia e pouca reposição. O maior rio do Nordeste é São Francisco e a taxa de deposição de areia no mar é baixíssimo”, explicou.
Cenário de destruição
Na memória dos moradores e turistas que frequentam a região há alguns anos, restam apenas as lembranças de uma Baía da Traição em que tinha uma área extensa de areia até chegar no mar. Alguns moradores contam que na área que hoje é água salgada, há mais de 20 anos servia de ponto de pouso de jatinhos. “Avião pousava aqui na maré seca”, contou Marluce de Araújo que mora há mais de 50 anos em Baía da Traição, em uma casa localizada na frente do mar.
Dona Marluce é uma das moradoras que não pensa em deixar a cidade, mas que de certa forma teme que algum dia o mar realmente invada a cidade. “Tenho medo do que Deus queira mandar”, disse. Segundo Williams, Baía da Traição é uma área naturalmente erosiva.
De acordo com Williams, a preocupação de Dona Marluce tem fundamento. “Aquela é uma região naturalmente erosiva. Se não tiver uma proteção vai ser engolida pelo mar”, disse. Mesmo com o receio, Dona Marluce contou que prefere continuar na sua casa. "Gosto muito daqui. É muito bom mesmo", explicou.
Manoel Veríssimo já gastou mais de R$ 10 mil ao longo dos 20 anos que adquiriu sua casa à beira-mar com a construção de quebra-mar e de outras medidas para conter o avanço do mar. “Na maré alta a água do mar atinge a altura do poste”, contou Manoel. Ele disse que já pensou em vender o imóvel, mas desistiu pois sairia perdendo por conta da desvalorização da casa . “Antes do avanço do mar minha casa valia R$ 120 mil, mas agora não vale nem R$ 80 mil”, lamentou.
A esposa de Manoel, Elione Oliveira Veríssimo, disse gostar do local apesar de todos os gastos que já tiveram. O geografo Williams explicou que as pessoas querem um resultado a curto prazo e por isso acabam construindo barreiras de proteção sem um estudo da área e por isso eles não suportam a força das ondas.
“Duas décadas atrás a região era uma vila de pescadores e hoje é uma cidade grande em termo de população. E a gente observa que a população cresce avançando para linha da costa”, disse Williams. Luiz Pedro, da Defesa Civil, explicou que o quadro de habitantes do município de Baía da Traição, que tem uma área de 102.36 Km², é composto por 8 mil moradores, sendo pelo menos 4 mil deles de origem indígena da tribo Potiguara. Os índios que vivem nas reservas não foram atingidos pelas mudanças vistas no mar durante os últimos anos, pois eles não ocupam a área da costa.
Ações
Em 2010, o Governo da Paraíba decretou situação de emergência em Baía da Traição, que na época já sofria com a erosão marinha que ameaçava bens do local e colocava em risco a vida dos moradores e dos turistas que passam pelo município. O pedido foi encaminhado para Brasília, mas o Governo Federal não decretou situação emergência e, segundo a Defesa Civil, os recursos seriam fundamentais para conter o avanço do mar. "A gente não tem muito o que fazer, pois nã há recursos", lamentou.
Em 2010, o Governo da Paraíba decretou situação de emergência em Baía da Traição, que na época já sofria com a erosão marinha que ameaçava bens do local e colocava em risco a vida dos moradores e dos turistas que passam pelo município. O pedido foi encaminhado para Brasília, mas o Governo Federal não decretou situação emergência e, segundo a Defesa Civil, os recursos seriam fundamentais para conter o avanço do mar. "A gente não tem muito o que fazer, pois nã há recursos", lamentou.
Luiz explicou que a prefeitura só pode interferir na área que é pública, dessa forma são os moradores da região que devem construir suas próprias barreiras para conter o mar. Já na praça, que é um bem público, a prefeitura realiza uma reforma pois ela também foi atingida pelas águas do mar.
Para conter a erosão marinha em Baía da Tração o geografo Williams Guimarães apontou uma alternativa. “É preciso fazer um estudo aguçado da área e ver como se comporta essa região. Fazer uma análise da taxa de sedimentação, estudo da corrente, mas tudo isso demanda tempo. E após esse estudo detalhado é possível realizar obras de engenharia que diminuem esse feito”. Segundo o geografo, o processo de erosão está ocorrendo em uma velocidade muito a alta e a tendência é aumentar, mas com uma obra realizada com base em estudos profundos é possível desacelerar o processo. E segundo o geografo, a ação tem que ser conjunta com apoio dos moradores e das instituições municipal, estadual e federal. "Se não tiver um procedimento coletivo, pode acabar danificando muito aquela área", finalizou.
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