Pesquisa identifica sinais de encolhimento de Mercúrio
O planeta Mercúrio está hoje cerca de 7 km menor do que quando sua
crosta se solidificou há mais de 4 bilhões de anos, segundo uma pesquisa
feita pela agência espacial norte-americana Nasa.
O menor planeta do Sistema Solar - e o mais próximo ao Sol - se esfriou
ao longo do tempo provocando um enrugamento da superfície.
Cientistas perceberam pela primeira vez o fenômeno quando a sonda
Mariner 10 passou próximo ao planeta nos anos 1970. No entanto, imagens
recentes do satélite da Nasa Messenger permitiram que os pesquisadores
aperfeiçoassem suas estimativas a respeito do tamanho da retração do
planeta.
E, conforme artigo divulgado na publicação científica Nature
Geoscience, o encolhimento é significativamente maior do que se pensava
anteriormente.
Resultados diferentes
O Mariner fez duas passagens por Mercúrio, em 1974 e 1975, e fotografou cerca de 45% da superfície do planeta.
Nessas imagens foram evidenciadas longas marcas que demonstravam que
rochas haviam sido deslocadas para cima, enquanto o planeta encolhia.
A partir dessas evidências, pesquisadores calcularam que Mercúrio deve
ter diminuído o seu raio por cerca de 1 a 3 km ao longo de sua história.
Mas esse resultado entrava em conflito com estudos de modelagem do
planeta realizados na época que sugeriam uma contração muito maior,
ocorrida nos 4 bilhões de anos.
O satélite Messenger ajudou a resolver essa inconsistência. Desde que
ele entrou na órbita de Mercúrio, em 2011, já fotografou 100% do
planeta.
Isso permitiu um estudo mais amplo das características de Mercúrio. A
nova avaliação calculou que a retração chega a 7 km do raio do planeta -
estimativa mais próxima dos estudos de modelagem.
Paul Byrne, principal autor do estudo e cientista do Carnegie
Institution for Science, em Washington, também ficou maravilhado com as
características da superfície do planeta apontadas no monitoramento.
'Algumas dessas crateras são enormes', ele disse à BBC. 'Há uma
estrutura geográfica chamada Enterprise Rupes, localizada no hemisfério
sul, que tem 1 mil km de comprimento e 3 km de relevo. É uma versão de
cadeias montanhosas em Mercúrio. Trata-se de algo surpreendente, dado o
reduzido tamanho do planeta. Imagina ficar diante delas?'.
Relevância
O interior de Mercúrio é bem diferente do da Terra, que tem uma extensa crosta e um manto envolvendo seu núcleo de metal.
Com mais de 4.000 km de diâmetro, o núcleo de metal do planeta é bem
mais dominante. Ele é coberto apenas por um verniz rochoso fino com
pouco mais que 400 km de espessura.
Embora parte do núcleo ainda esteja em forma líquida, uma parte terá esfriado e solidificado, resultando na perda de volume.
A Europa e o Japão planejam lançar uma missão conjunta à Mercúrio para acompanhar as observações feitas pelo Messenger.
A sonda Bepi Colombo deve ser lançada em 2016. Um de seus principais
pesquisadores será Dave Rothery da Open University na Grã-Bretanha.
'As pessoas costumavam pensar que a Terra estava encolhendo - que de
fato está um pouco, mas não podemos ver por causa da maneira como as
placas tectônicas são criadas e destruídas na Terra', explicou.
'Antes de entendermos as placas tectônicas, as pessoas pensavam que as
cadeias de montanhas da Terra eram formadas porque o planeta estava
encolhendo e forçando o material para cima, e as áreas de acumulação de
sedimentos aconteciam onde a crosta era forçada para baixo pela
contração. Sabemos agora que, de modo geral, essa ideia é errada, mas
este é o processo em Mercúrio, porque é um planeta com uma única placa.'
O estudo é relevante para cientistas que tentam entender planetas fora
do nosso Sistema Solar. Muitos deles podem também ter apenas uma única
placa e apresentar características na superfície muito semelhantes às
observadas em Mercúrio.
FONTE: R7
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