Ricardo Coutinho: “Podem faltar placas, mas não faltam obras”
Governador afirmou que a meta, para este ano, é manter a mesma velocidade de investimentos implementados nos últimos dois anos e que tem provocado profundas mudanças no Estado
“Pode até faltar placa, mas obras não faltam”. A frase dá o tom do estilo de governar do socialista Ricardo Coutinho. Em entrevista exclusiva ao Correio, o governador afirma que a meta é manter, para 2013, a mesma velocidade dos investimentos implementados nos últimos dois anos de gestão, com foco para obras de infraestrutura, de olho no crescimento turístico da Paraíba. Entre elas, a estrada de Mataraca até Barra de Camaratuba, além do saneamento da Praia de Jacumã e do município de Lucena. “Queremos com isso ter infraestrutura para trazer pousada e hotel”, acrescenta.
Tido como centralizador, Ricardo considera isso uma virtude e não um defeito. Também fez questão de deixar claro que não abre mão, “nem a pau”, de manter o equilíbrio do Estado e, para tanto, estuda com cuidado os percentuais de reajuste para o funcionalismo estadual, cuja data-base é este mês. “O governador não pode fazer gracinha para ninguém”. O socialista também falou sobre o relacionamento com a bancada da oposição na Assembleia Legislativa da Paraíba e diz que quer lealdade dos que estão com ele. Condenou o que tacha de “crítica pela crítica”. Considera o Legislativo um poder importante, mas que não pode respirar golpe, em uma referência às recentes mudanças no Regimento Interno.
Entrevista
- Governador, chegamos ao final de 2012, o que foi planejado e foi executado e o que ficou pendente na gestão?
- Essa pergunta não dá para responder de forma tão direta. Estamos fazendo uma transição dentro do Estado que busca levar a Paraíba a outro grau de competitividade. Isso é uma coisa que não se faz em um ou dois anos. Mas, 2012 foi importante porque consolidou tudo isso. Mostrou que o Governo tinha força para seguir em frente. O Governo sabe o que quer e não está fazendo as coisas como se faz um evento. Nós estamos em busca de procurar desenvolver um conjunto de ações que permita construir uma perspectiva de desenvolvimento com inclusão social. Nós tiramos nove cidades do isolamento. Tem 22 municípios com obras em andamento e estamos licitando 12. Estarei assinando nos próximos dias a ordem de serviço das oito cidades restantes. Na [próxima] terça-feira, eu inauguro a [estrada] de São José de Caiana e, na quarta-feira, assino a ordem de serviço em Santa Inês. E vou construir estradas em todas as cidades que faltam. Nós estaremos investindo em quatro anos cerca de R$ 1 bilhão em rodovias.
- Essas estradas estão sendo construídas com recursos do Estado?
- Temos recursos que correspondem a 15% disso, oriundos da CAF [Corporação Andina de Fomento], que alguns diziam que já estavam liberados e não estavam. Tivemos que destravar o processo de liberação desses recursos e recebemos a primeira parcela em abril de 2011. Mas, é preciso ressaltar que houve ações importantes para que estes R$ 150 milhões chegassem, tanto no governo de Cássio [Cunha Lima] como no de [José] Maranhão. Agora, isso corresponde apenas a 15%. Temos investimentos com recursos próprios, além dos que são fruto de financiamento junto ao BNDES, mas que o Estado vai pagar, e que vamos assinar este mês. Abrimos, já neste Governo, 550 leitos em hospitais públicos e vamos abrir mais 250. Você sabe por que aquele caos, que poderia ser agravado ainda mais por conta dos municípios, não se estabeleceu? Porque nós agimos antes e sem receber recursos dos municípios (a chamada pactuação integrada). É um absurdo isso. É ilegal, uma afronta.
- Falta consciência dos prefeitos em não repassar esses recursos devidos ao Estado?
- Não é questão de consciência. Foi nitidamente perseguição política. Não tem nada de consciência nisso. Hoje, a saúde tem bons quadros. Todo mundo sabe como funciona o SUS [Sistema Único de Saúde]. No caso de João Pessoa foi uma falta de respeito. Segurar não só a cidade de João Pessoa, mas metade do Estado em cima do Hospital de Emergência e Trauma e o Ortotrauma, que por coincidência fui eu, enquanto prefeito, que construí, praticamente peneirar e devolver pacientes, encaminhar, incluindo e instrumentalizando o Samu, e não repassar os recursos para o Trauma, isso é algo que não se faz. Fui prefeito desta cidade e nunca permiti que isso fosse feito. Esta superlotação foi diminuída ou acabada. O Trauma se normalizou. Já o Hospital de Trauma de Campina Grande, desde que assumi, não foi repassado nenhum centavo ao Estado.
- O senhor tem idéia de quanto estas prefeituras devem ao Estado?
- R$ 100 milhões, só de 2012, essas Prefeituras estão devendo ao Estado. E por atendimentos realizados, não é por coisa por fazer não. A maior parte, claro, de João Pessoa e a segunda maior parte de Campina Grande.
- O senhor pretende cobrar esses recursos?
- Se o poder público não cobra, nós vamos para onde? É um dinheiro do povo. Nosso grande desafio é melhorar a qualidade, a organização dessa rede, que não é algo fácil. É difícil porque tem muitas resistências a isso. Tem muita gente que ganha pela desorganização, pela ineficiência do sistema. Nós estamos cuidando disso. Ainda tem muita coisa sendo feita e eu creio que resultados muito mais claros e nítidos ainda vão aparecer. Abrimos o Hospital de Taperoá, a UPA de Guarabira, que se a gente não abrisse de imediato, nós teríamos um colapso em todo o Brejo, porque lá não tinha um pediatra na rede pública para atender às crianças. Nós tiramos a saúde da UTI no Brejo. Este ano, vamos abrir os hospitais de Monteiro, Picuí, Pombal, todos em conclusão, e vamos iniciar o Hospital de Trauma de Santa Rita. Abrimos o de Sumé também, que estava com a prefeitura e vamos abrir também o de Mamanguape. A questão do abono natalino do Bolsa Família, o Governo tem quatro anos e depende de uma situação que ele pegou. Quem criticava não tinha a menor moral para fazê-lo. Tanto que nem abriu mais a boca para reconhecer que foi feito. Na política você tem que ter a decência para fazer a crítica. Se não, perde a credibilidade. E, ao mesmo tempo quem teve tanto tempo para fazer, vir com a demagogia de cobrar algo numa situação de desequilíbrio total do Estado. ‘Se espera três meses para a população achar que automaticamente a situação está em ordem e, agora, vamos para cima tentar impedir que o Governo consiga governar’. Esse foi o quadro que aconteceu nestes dois anos. Mas, isso não aconteceu à toa. É normal que tenha acontecido. É uma reação àquela velha forma de fazer política e se apropriar do Estado. E é isso que estamos fazendo. O Estado está mudando os seus métodos. Não é mais uma grande pizza a ser dividida por quem tem influência ou tem poder político.
- Essa mudança seria a “grande birra” da oposição na Assembleia Legislativa da Paraíba para com o Governo?
- Não tenho a menor dúvida. Qual a crítica que se faz ao Governo, concretamente. ‘Ah! O Governo não dialoga’. Dialogar como? Eu recebo quilombolas, movimento feminista, categorias, eu vou a todos os cantos dialogar. A tal da ‘falta de diálogo’, é outra ‘falta de diálogo’. Esta realmente não me interessa. Esse é o choque que eu estou falando. E esse choque é bem vindo. Claro que sobra para mim porque eu sou o condutor deste processo e eu não estou reclamando. Você não tem uma disputa de projetos. Você tem uma negativa de projetos que se estabelece em função de uma coisa antiga, ultrapassada, onde setores, inclusive, organizados com poder, fatiavam o Estado e para a população não se via nada. O processo de ruptura com este modelo é que ocasiona esta guerra. Que não é uma guerra do Executivo, ela é feita contra o Executivo. E, na essência, contra o povo, contra o interesse da população. Por isso, tenho muita tranquilidade para falar sobre isso. E tenho muita tranquilidade para continuar nesta caminhada. O que eu apanhei nestes dois anos nenhum outro governador apanhou na história da Paraíba. Tudo por causa da mudança de métodos que estamos implementando para que o Estado tenha mais recursos para fazer investimentos.
- Como está o Estado hoje, tem dinheiro em caixa?
- Para ser bastante sincero, eu tive que pegar as economias que eu tinha feito, e para manter o equilíbrio, usei para pagar aquilo que foi realizado e comprado em 2012. Fechamos o ano equilibrado, porém sem reservas. Temos dinheiro, como nunca o Estado teve, para investimentos públicos. Para se ter idéia, o pico de investimento que o Estado teve, nos melhores momentos, era de R$ 250 milhões. Nós estaremos agora em janeiro, quando der as ordens de serviço que faltam, com R$ 4,5 bilhões em investimentos. Estou falando de 20 vezes mais. A Paraíba é um canteiro de obras, pode até faltar placa, mas não faltam obras. Mas, a parte do custeio, que é aquela que paga energia, combustível, que contrata gente, esta realmente nós não temos, porque a gente sobrevive ou com repasse, e o FPE [Fundo de Participação do Estado] teve uma queda brutal da expectativa que nós tínhamos, que era de 19% e nós fechamos o ano praticamente com o mesmo recurso de 2011. Sendo que o piso de professores cresceu 21%, o salário mínimo cresceu 14%, a inflação foi 6%, nós demos reajuste na folha de 10%. Nós crescemos tudo e ao mesmo tempo a receita não cresceu. É uma situação delicada no que se refere a custeio, mas nós estamos trabalhando tocando os investimentos e, do ponto de vista de só comprar o que se pode pagar, nós estamos equilibrados.
- O senhor acredita que tem conseguido recuperar a motivação do servidor público?
- Com muita dificuldade. Existe uma longa trajetória, isso não se muda assim. Não adianta chegar e dizer: “olhe a situação é muito crítica, mas eu quero que vocês se esforcem no trabalho”. É claro que você vai ter uma parte que não vai aceitar isso e vai reagir. Outra parte, não. Eu sinto como a motivação na educação existe e também na segurança. Existe motivação. Só o fato de um policial poder abordar alguém e não ter mais aquela história de ‘carteirada’, para ele vale muita coisa. Essa mudança de mentalidade é essencial para a Paraíba e qualquer Estado. A polícia está compreendendo isso. Os investimentos que fizemos na polícia foram muito altos. Você não pega um Estado do Nordeste que tenha dado o que nós demos, mas isso até talvez por incompetência nossa, não foi dito. Ao contrário, ficou uma bobagem em janeiro do ano passado dizendo que o crescimento foi de 3%. Isso foi a base apenas. Isso foi para poucas pessoas. O reajuste para a educação foi de 10% e mais uma bolsa que fazia com que a remuneração fosse de 23% a 45%. O soldado teve 19% de reajuste. ‘Ah, mas foi porque criou uma bolsa’. E eu podia fazer o que? Ia estourar a folha de pessoal junto à Lei de Responsabilidade Fiscal? Eu tinha que fazer alguma coisa.
- O senhor vê certa intransigência por parte de algumas categorias?
- Não pelas categorias, mas por parte da direção de algumas categorias. Mas, isso é normal. Às vezes, as pessoas se perdem. E eu conheço muito isso. O Governo não vai se dobrar. Não posso pegar uma pequena quantidade que já tem, em relação aos demais, uma boa condição e dar a essa pequena quantidade uma condição muito mais privilegiada. Aí, você tem uma pequena direção que estica a corda e quer simplesmente achar que vai destruir o Governo, destruir o Estado. Se chegou ao cúmulo da direção de um sindicato entrar no STF [Supremo Tribunal Federal] com uma ação contra o Estado para que se declarasse inconstitucional todos os incentivos fiscais dados ao Estado da Paraíba ao longo dos últimos anos. Isso significa acabar o Estado. E o discurso era que o Estado estava perdendo dinheiro. Ora, aí o Estado iria perder todas as empresas, porque as empresas vieram para cá por conta dos incentivos. Veja a que nível nós chegamos. Não divulguei isso porque achei uma coisa tão absurda que eu não iria criar um clima de instabilidade para os investidores que nós estamos reforçando, trazendo.
- Esses incentivos serão mantidos?
- Serão mantidos dentro da Lei. Tem uma decisão do Governo Federal de até 2025 igualar o ICMS, entre a partida e o destino, e isso precisa ser substituído por algum tipo de atratividade. Isso não é guerra fiscal. A imprensa do Sul costumou apelidar isso, em alguns casos até com certa razão, aí criminalizou a história. Não é. É a sobrevivência de uma região que é importantíssima para o país. A política tem que ser para desenvolver regionalmente o Nordeste, o Norte e o Centro Oeste. Agora, isso não é uma política de região. Isso tem que ser uma política nacional. Interessa ao Brasil que o Nordeste ocupe este espaço. Aí vão dizer que o governador da Paraíba defende guerra fiscal. Eu não defendo, são mecanismos de atratividade de empresas para favorecer cada vez mais a industrialização dessa região, porque se não for assim, vamos voltar para uma época do assistencialismo e essa região não pode ficar mais dependente do que já é do Governo Federal por conta de um pacto federativo que não existe. Chamem do que quiser, para mim isso é uma política diferenciada de desenvolvimento regional que o Nordeste precisa. Temos capacidade de atrair, aí, agora, vem esta política criminalizando, que tem os seus efeitos maléficos, mas ao mesmo tempo não pode deixar sem nada para substituir. Porque, senão, a empresa sai e vai se instalar próximo de onde estão as matérias primas e de onde está o mercado consumidor, que não é o Nordeste. Mas, teve a loucura de sindicato de ir ao Supremo dizer que algo é ilegal. É ilegal na Paraíba, na Bahia, em Tocantins, em todo o canto. Mas, e vai dizer simplesmente que é ilegal e acabar e pronto? Tudo em função dessa necessidade para alguns de se contrapor ao Governo.
- O senhor falou em equilíbrio, chegamos a janeiro, mês da data-base de reajuste para o servidor. Como estão as negociações? O Governo já tem uma idéia do percentual desse reajuste?
- Nós conversamos com as categorias, aquelas que têm sensibilidade, que não pensam em apenas fazer disputa política. Conversamos, ouvimos e estamos em busca de fechar algum número.
- O senhor acredita que fechará esses percentuais até quando?
- Sabe qual é a dificuldade? Ano passado, nós fechamos em 10% o impacto da folha. Foi muito alto. Numa perspectiva de crescimento de 4,5% do PIB. Cresceu 1% e só disseram isso no final do ano. Aquilo que entra na folha não sai mais, então, estou com muito cuidado porque acho que as projeções [de crescimento da economia] são um tanto quanto sombrias. Acho que apesar das ações que a presidente Dilma [Rousseff] tem tomado, não há nada que nos diga que vamos ter um crescimento de 3%, 4%. Esse temor é muito forte. Então, eu não posso fazer firula com quem quer que seja, tenho que respeitar as pessoas e, particularmente, o servidor público. Vou abrir um restaurante para o servidor público ao lado do Centro Administrativo no início deste ano. Estamos incluindo servidores em várias políticas públicas, mas ao mesmo tempo não posso extrapolar no reajuste. Tenho que achar um número que caiba no Estado e que seja seguro. É importante lembrar que a Polícia Militar, por exemplo, teve reajuste em 2003, em 2008 e depois no meu Governo. O funcionalismo só tinha o salário mínimo sendo reajustado. Nós estamos buscando uma constância nisso com a instituição da data-base. Fizemos em janeiro de 2011 e vamos fazer agora em janeiro de 2012, mas fazer aquilo que está dentro da capacidade do Estado. O governador não pode fazer gracinha para ninguém. Vou dizer uma coisa: o reajuste, aquele que venha para cada categoria, é o reajuste possível e máximo de ser dado. O Governo Federal, depois de vários anos e com uma situação muito melhor que a da Paraíba, está dando 5%. Estamos buscando estabelecer recomposições salariais. Claro que algumas áreas nós devemos diferenciar. O das polícias terá de ser diferenciado, porque eu não posso desconhecer uma realidade que está aí presente no dia a dia. E vou fazer isso.
- O senhor se sentiu injustiçado de alguma forma?
- Isso é normal. Eu desconfiaria se não tivesse essa reação. Aí alguma coisa estaria errada. Quem está se opondo, está se opondo porque perdeu privilégio. Não está se opondo por discordar do modelo. Isso é conversa fiada. Está se opondo porque a fatia grande que tinha, ela foi extraída para que o povo tivesse mais coisa. Na verdade, tem muita é conversa fiada, mas que no fundo é uma coisa tão positiva porque quem tem conversa fiada não tem o que falar. A seca... a seca sempre foi um problema nacional e é. Nesse Governo agora foi que tomamos o problema para nós também e fomos distribuir ração para não perdermos todo o rebanho. Somos o único Estado do Nordeste que fizemos isso, apertados do jeito que estamos. Fomos distribuir carros-pipa, além dos do Exército, repassando para os municípios. O Governo tem pró-atividade, isso é indiscutível. Se quem faz crítica, as faz em coisas tão bobas... Imagine numa crise dessa alguém estar lá na Assembleia [Legislativa] criticando: cadê o 13º?. Como se fosse coisa de ‘menino buchudo’. Não tem consistência. Eu fui parlamentar de oposição 12 anos, e era de oposição mesmo, tinha matéria que eu votava em 24 horas porque era relevante. Eu jamais votaria contra um aval do Estado para salvar uma empresa pública como a Cagepa. Se eu fizesse isso, morreria com essa culpa.
- Voltando à Assembleia, como é governar tendo a maioria dos deputados sempre votando contra os projetos do Governo?
- Eu decidi ano passado ir para o preto no branco. Quem está [comigo], está. Quem não está, não está. É a regra da democracia. Eu não tenho problema com oposição maior ou menor. E nem faço qualquer coisa para ter maioria. Isso todo mundo sabe e se não sabe, se chegassem aqui agora, ficaria evidente isso. Nunca fiz e não vou fazer. Agora, o que eu quero daqueles que estão comigo é clareza e lealdade, que estou tendo. E quero que os demais, que porventura achem que vão estar com o Governo e ao mesmo tempo vão estar contra o Governo, dependendo das conveniências ou dos apertos, que se não é para estar com o Governo, vão sair do Governo. É assim o jogo. Lamento profundamente que isso seja feito em torno de coisas muito delicadas. A Assembleia é um poder muito importante, essencial para um processo de construção de um Estado democrático. Agora, não pode respirar golpe, não pode ficar pensando ou sonhando que vai interromper mandato de quem quer que seja.
- O senhor se refere às mudanças no Regimento Interno da Assembleia.
- Eu falo de mudança no Regimento Interno, de tanta coisa. Estou tentando dizer que quem me deu o mandato foi a população, e por 150 mil votos de maioria, e não será meia dúzia de gente que vai achar que vai retirar isso porque aquele modelo de Estado que existia, que eu falei no início [da pizza fatiada], não existe mais. O que eu digo é o seguinte: se querem ser oposição, que sejam. Que critiquem o que está errado e que digam qual o caminho.
- O senhor já recebeu alguma sugestão?
- Nunca. O que eu ouvi, foi dizerem: “é do Governo, vamos votar contra”. Chegando ao cúmulo de uma resolução dessa, nitidamente golpista. E, chegando ao cúmulo de prejudicar a Cagepa, que não tem culpa. A Cagepa foi estuprada e não foi no meu Governo. Tem muita gente na Assembleia que passou ou foi cúmplice disso e não fez nada. O que está acontecendo aqui dentro? Nós vamos perder uma companhia porque o povo não pode estar pagando R$ 5 milhões, R$ 6 milhões todo mês para tapar rombo. Isso chegou no limite. Eu vou construir qualquer saída que seja [para a Cagepa].
- Essa saída incluiria a privatização?
- Essa saída é qualquer uma que seja. O que o Governo não tem como, é todo mês pegar R$ 6 milhões para cobrir um rombo, para pagar juros a banco e pagar uma folha, que não para de crescer. Ao mesmo tempo é uma companhia que se sente amordaçada, que se for instalar um hidrômetro, não pode contratar uma empresa porque dizem que seria terceirização. Por conta disso, tem que contratar um concursado. Nós não estamos na época de Getúlio Vargas e a companhia não pode sobreviver dessa forma. Estou no aguardo da Justiça para que a gente possa salvar a empresa. Porque, repito, é só picuinha negar que o Estado seja avalista [do empréstimo]. Alguém negar isso e achar que está fazendo isso em nome do povo.
- O que o Governo está planejando para 2013 em termos de investimentos?
- Vamos continuar nesta velocidade, que eu acho muito rápida, inaugurando estradas. Não só as estradas que liguem as cidades que não têm acesso, mas outras estradas como as turísticas. Eu vou fazer, por exemplo, a estrada de Mataraca até Barra de Camaratuba. É uma estrada que, de cinco a seis anos, teremos outro panorama na área de turismo. Vamos fazer agora o saneamento de todo o Jacumã e de Lucena. Queremos com isso ter infraestrutura para trazer pousada e hotel. Estamos fazendo o contorno de Jacumã, que vamos inaugurar agora em fevereiro. É algo fundamental porque você não pode ter uma parte da Costa aberta para o turismo e completamente desorganizada. Em época de Carnaval, ali era o caos. Se você for no Carnaval agora, vamos abrir o contorno e não vai ter o caos. Outra cidade histórica – Areia – faremos todo o saneamento e daremos também a solução da água. Isso porque ou a gente pensa em profissionalizar a visão que temos do turismo, e esta visão tem que correr lado a lado com a infraestrutura, ou então, não vamos ter capacidade de ter um grau de competitividade futura. E o Centro de Convenções vai mudar muito isso. A obra ficará em torno de R$ 180 milhões, mas vamos ter ainda móveis, mobiliário. É um investimento muito alto, 70% de recursos do Estado. Mas, é investimento fundamental. Eu disse ainda durante a campanha que eu faria [o Centro de Convenções] nem que fosse a única coisa que eu fizesse, porque sei da importância e de como estes 51 setores que compõem a cadeia produtiva do turismo serão ativados. Eu sei como isso vai gerar emprego para garçom, cozinheiro, de tecnólogo para os hotéis, de arrumadeira, de artesanato, o setor de serviço como um todo.
- O senhor apresenta, nos próximos dias, os números da segurança no Estado. Foi o esperado?
- Não foi possível atingir os 10% de redução, que era o que nós prevíamos, mas provavelmente fomos o Estado que mais decaiu. É um grande avanço. Doze anos é muito tempo. Havia uma acomodação do crime. Então, vamos fechar acima de 8% na Grande João Pessoa, que tinha a situação mais difícil. Mas, fechamos acima da meta. Perdemos um pouco em Campina Grande, mas mesmo assim ficaremos melhor que no ano passado. Santa Rita melhorou nos últimos três meses, mas o resultado do ano ainda foi ruim. Temos uma política pública de segurança sendo implementada. Estamos fazendo com inteligência, técnica, equipando e treinando melhor a polícia, informatizando as delegacias. Delimitando os territórios, onde cada um contará com um delegado. Também vou conversar para que cada território tenha um promotor, um defensor público e um juiz. Se o Estado prender muita gente e a Justiça não julgar, não adianta.
- Muito se fala no estilo ‘centralizador’ do senhor trabalhar. Os secretários já se acostumaram com esse estilo?
- A pior coisa é aquele governador que não sabe o que está acontecendo na ponta. Esse talvez não demonstre o cuidado que um governante precisa ter. Claro que haverá coisas que você não saiba, aí se toma providências. Mas, no meu entender, o governante tem sempre que buscar saber e também cobrar o ritmo das coisas que precisam caminhar. Porque, quem é que vai cobrar? Nós não estamos na autogestão. Estamos em um processo que existe uma hierarquia e que essa hierarquia tem que cumprir os seus papeis. O meu papel é conhecer e cobrar de todas as áreas para que o Governo, como um todo, ande. É isso que estamos fazendo. Sempre fiz isso e não abro mão. E acho muito certo. Ah, mas porque centralizat os recursos financeiros? E vou dar para quem o dinheiro? Que coisa mais sem sentido. O responsável sou eu. Eu é que tenho que prestar contas. E eu não posso abrir mão disso porque senão eu seria irresponsável. Agora, do ponto de vista do desenvolvimento das ações, eu cobro agilidade. E, para ter agilidade, as pessoas precisam correr atrás. A autonomia para trabalhar tem. Eu tenho responsabilidade que não abro mão de exercê-la e nem devo. Diferentemente do que alguns dizem não é um defeito, é uma virtude. Eu jamais gostaria de ser governado por alguém que não soubesse do que está acontecendo em uma secretaria ou noutra, que não tivesse coragem de cobrar porque fulano foi indicado por alguém, aí não dá. Ou seja, o Governo é um só, as pessoas têm que se enquadrar, assim você teria vários governos em um só e não é essa a minha proposta.
- Que lição o senhor tira dessas eleições municipais de 2012?
- Na verdade havia uma conjunção de fatores permeados por vaidades e também por uma vontade muito grande de tentar interromper um processo que tínhamos colocado em João Pessoa e que já vinha dando mostras de desvirtuamento, que não eram visíveis à população, mas que eu que tinha saído lá de dentro, sabia. Eu sei de um monte de coisa que estava fugindo daquela lógica que havia sido implementada e que era importante para nós do PSB. Uma lógica construída com muito cuidado, suor e compromisso. Mas, havia essa pactuação de tentar inviabilizar Estela [Bezerra] e, indiscutivelmente, eu posso dizer agora porque já passou a eleição, é a pessoa mais preparada para dirigir uma cidade com a complexidade de João Pessoa. Não estou falando mal de ninguém... Eu achava que qualquer processo, ele tem que avançar. Eu penso dessa forma. Eu não faço da política um meio de sobrevivência meu. Às vezes, algumas pessoas talvez até se irritem ou não acreditem, mas é exatamente isso. Eu sempre aposto no melhor, tenho feito isso constantemente. Já teve vez de eu pegar alguém com 23 anos e colocar como Chefe de Gabinete, e fazer uma aposta para formar uma pessoa. No futuro, às vezes, a pessoa faz exatamente tudo ao contrário daquilo que porventura tenha aprendido. Mas, são as curvas da vida... O processo de João Pessoa tem que dar um passo adiante e eu acho que quem pode assegurar esse passo é a população. Se ficar à espera do Governo, pode sofrer uma espécie de pasteurização, que é a destruição dos avanços por dentro. Mas, você vai ver que vão inventar muita coisa. Vão reproduzir com outra roupagem aquilo que nós fizemos em cinco anos. Não fizeram nada de novo nesses três anos e nem vão fazer agora. E dentro desse processo ocorreu um racha que teve muito mais um conteúdo ético...
- O senhor esperava [o racha]?
- Jamais. Se alguém me dissesse que essas cinco pessoas [não citou os nomes], que nós entregamos o comando da Prefeitura e outra que eu trouxe para o Estado, que essas cinco pessoas agiriam como agiram... Se me dissessem isso a dois anos antes do ocorrido, eu teria brigado talvez fisicamente com quem me dissesse isso porque seria uma afronta. Jamais imaginaria que o nível de uma traição na política, que é tão comum, mas nesse caso não. Esse caso jamais poderia ser comum, porque a gente tem que compreender de onde e como a gente veio. Quando a gente não consegue fazer isso, se torna uma arma de descrédito para qualquer um. Porque quem faz uma coisa dessa com quem conviveu 30 anos o que é que é possível fazer com quem convive há seis, sete meses. Confiança não é algo que você extraia de um discurso, é algo que você constrói.
- O senhor já virou essa página?
- Completamente. Ainda bem que são poucas pessoas, mas demonstraram por vários motivos, eu não vou aqui discorrer, mas eu sei quais são. O poder não pode ser feito só em função da sua própria permanência. O poder não pode ser visto como alguém que ache que faz política ou que queira governar alguma coisa e ache que tem a melhor capacidade de governar. É o oportunismo de se manter no poder, mas não de governar para poder fazer com que a sociedade avance. Eu não faço isso. Eu posso até errar, como já errei várias vezes, mas eu não posso simplesmente me nortear por um sentimento que naquele momento possa ser majoritário, mas que não seja o mais correto. Não posso negar o avanço necessário às ações que são necessárias para produzir o avanço em função de uma permanência minha ou de quem quer que seja no poder sem que haja contestação. Eu realmente acho que quem pensa desse jeito não teria jamais capacidade de governar alguma coisa. E esse processo todo ficou para trás porque as pessoas serão lembradas pelo que fizeram. As pessoas confiam em quem acham que podem confiar, em quem tem histórico de confiança. Tem tanta gente que se acha esperto e caiu no ostracismo.
- O senhor pensa em disputar a reeleição? 2014 está na pauta de 2013?
- A minha pauta da política é buscar fazer as coisas, construir os processos. Mesmo que eu quisesse, eu não estaria pautando 2014, estou pautando 2013. Em 2014, a população vai naturalmente sinalizar se quer o retorno dessa política da pizza fatiada em poucos pedaços, onde o povo não podia sequer chegar perto, não sobrava nada ou se quer essa nova forma. O povo vai dizer se quer essa transição, que coloca a Paraíba hoje em situações importantes.
- Como o senhor espera que seja a relação com o prefeito Luciano Cartaxo, por ser João Pessoa a Capital do Estado?
- Depende dele, não depende de mim. Eu vou continuar fazendo as mesmas coisas e vou fazer muito mais por João Pessoa. Vou fazer o viaduto do Geisel, vou fazer o Trevo de Mangabeira, já estamos fazendo a Escola Técnica, o Centro de Convenções vamos inaugurar, a Avenida Cruz das Armas já está em execução, coisas importantíssimas. Depende é dele. Ele é que sabe o que ele quer. Minha obrigação é tratar de uma forma republicana todos os prefeitos e faço isso queira o prefeito, não queira o prefeito. É claro, ao ler algumas ações, seria tão bom, tão bom não, porque tanto faz como tanto fez, mas que se desdisse aquilo que se tinha dito em relação às minhas ações enquanto prefeito e enquanto governador e, de repente, está se fazendo a mesma coisa. A questão vai ser o conteúdo dessas coisas, que eu espero que seja muito bom, que a cidade avance. Da minha parte, vou esquecer a época que ele [Luciano Cartaxo] era oposição a mim e que dizia tanta coisa que não tinha o menor fundamento sobre administração pública, sobre governança. A prática dele agora vai demonstrar de que efetivamente o que ele dizia não é condizente com o que ele faz hoje. Eu vou sempre estar à disposição, não só por ser governador do Estado, mas por morar nessa cidade e querer o melhor para ela. Agora, o tom quem dá é quem governa o município. Não serei eu a entrar na administração municipal, em nenhuma delas.
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